nuv.oleta #10
numa tarde ensolarada de domingo, nuvoleta arrepende-se de suas tentativas de morte, pensa no outono que logo vai chegar, levando tanta coisa cinza e amarga, trazendo consigo, junto das folhas secas, as mensagens coloridas de uma primavera que será intensa , assim como as nuvens feitas de algodão-doce que resultaram na mais doce e meiga, menina nuvem desse mundo, nuvoleta.

nuv.oleta #09

missislifi pegou o duende do chão frio e cemiterioso do banheiro e fez crescer uma flor amarela em seu lugar. deu um beijo no rosto do duende que de tão pequeno cabia nos dedos da mão. nuvoleta recuescondia a milágrima e a tristeza, se fosse ela, talvez houvesse sol para todos que habitavam aquele banheiro... mas missislifi não deixava de sorrir... soprou no corpo longinguo e o duende piscou... e nuvoleta jogou os comprimidos na coisa de comer coco... shiiiiiii...
a coisa de comer no entanto não resistiu e ficou internado três dias até que voltou a casa de nuvoleta e cumprimentou a banheira dizendo que no hospital as coisas fediam.

nuv.oleta #08

pensando em suicídio nuvoleta patina até o banheiro, pega remédios mortais, mas lembra da caixa de lápis coloridos que ficou sobre sua cama, eis que um duende toma todos medicamentos de morte, e morre.

nuv.oleta #07

assistindo a tv, nuvoleta se entretem com comerciais de bancos, carros e governo. como a vida pode ser boa!

nuv.oleta #06

os passarinhos deixam cair suas penas para que nuvoleta faça vestidos para as bonecas de quem não tem dono.

nuv.oleta #05

missislifi amiga inconfundível de nuvoleta no meio de uma piscina de bolinhas coloridas acena para ter sua presença notada, eis que sua amiga, nuvoleta, esqueceu que ela existe, pois ela é invisível.
comendo pão de queijo sabor wafer de morango, as duas e mais uma abelha vêem um cometa bater na piscina onde ocorre calefação total, fazendo com que nuvoleta pegue um avião e fuja para selva.

nuv.oleta #04

um cachorro outonal caminhazagueava, sem pretensões homéricas, revememorando a espuma que seu mijo fizera num poste de zinco e cobre que fora erguido há 200 anos.
nuvoleta começou a persegui-lo, esmeando entre árvores. o cachorro que se chama sebastião ou au au desconfiou, o nariz atentou-se e atravessou a rua. nuvoleta também principiou e fez. se entrasse numa rua erma, talvez parasse, pensquetou. quebrou a espinha e entrou numa ladeira. nuvoleta fez igual e ele parou de abanar o rabo.
tecla pause. quem é essa núvem? para de me perseguir as linhas do meus passos! vou correfugir!
e atingiu estonteante velorrapidez que nuvoleta teve que deixar de pisar no solastro para poder alcançar.
frearam um sinal vermelho.
-- au au.
(por que você está me perseguindo?)
-- au a au au hum.
(não é isso que vocês fazem?)
-- aun
(nem)
-- au
(ah, tá...)
nuvoleta virou-se, riu-se bastante de monte e foi andando atrás de um anão que tinha barba de terrorista.

nuv.oleta #03

o padeiro disse quantos pães nuvoleta queria.
-- quero todos com formato de sapinho.

nuv.oleta #02


nuvoleta deixou que lambesse sua saia que parecia derreter no úmido. continuou dançando sem saber que a música acabaria em 2 segundos, acabou. as luzes presas no seu antebraço faziam tetradesenhos que loopiavam. um homem com nariz inglês sangrava e perguntou se podia limpar nos seios de nuvoleta que disse sim, sim. o nariz parou de sangrar e quando ele ia agradecer ela já tinha sumido na boca de algum traficante pequeno.
muitos suores diferentes. o lugar não fedia, cheirava a esmo. as pickups deviam estar com algum defeito porque deixavam-se emocionar. nuvoleta percebeu isso e sentiu vontade de ir ao banheiro para pintar seus olhos.
-- mancha sim.
colocou sua bandana com cores chapadas. impediu assim que seus caracóis que desbotavam caíssem em sua boca. podia falar, mas não tinha o que. por enquanto. um homem ofereceu um resto de lenço para que enxugasse. teve o que.
-- brigada.
deixou que lhe fizesse um afago. um amoroso! e gostou de agradecer. deu um abraço de muitas cores ao homem e lhe comunicou sua resolução dissoluta:
-- vou fazer uma oração que principia assim.

nuv.oleta #01

-- eu não lembro como nasci.
não preciso lembrar que nasci.
estou por aqui; se quiser me encontrar.
deixa seu ip se ele não for dinâmico.